Concluímos o primeiro ciclo de reflexões do caminho até a
Ampliada Nacional da Pastoral da Juventude em janeiro de 2017. Esse primeiro
movimento foi em torno das três dimensões do tema escolhido: para ser “tão PJ” romper barreiras, renovar a esperança e celebrar a vida.
A partir de agora nos desafiaremos a rezar, refletir e nos comprometer com a
proposta de Iluminação Bíblica: “Ide
anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá me verão”
(Mt 28,10). Nessa reflexão, nos desafiamos a entrar na Galileia e com Jesus
redescobrir nosso método.
Jesus era Galileu. Veio de
um povoado chamado “Nazaré” que pertencia a região da Galileia. É nesse espaço
que Jesus, na experiência da Ressurreição, pede aos “irmãos” para se dirigir.
Após a Páscoa, a Galileia é ponto de chegada e novo ponto de partida. Foi o
chão que Jesus pisou a maior parte da vida. Ele não se aventurou nos caminhos
do Império Romano, as rotas comerciais… Mas conheceu profundamente as alegrias
e os sofrimentos dos Galileus. O Evangelho de Lucas narra de maneira profunda a
caminhada que Jesus fez da região da Galileia até a Cidade Santa de Jerusalém.
Nesse caminho, ensinou o acompanhou a educação da fé e da vida, de maneira
pedagógica, dos que caminhavam com Ele no discipulado.
Antipas governou a
Galileia do ano 4 a.C. até 39 d.C.. Portanto, durante toda a vida Jesus foi
súdito seu. Governou com braço de ferro e construiu junto ao lago da Galileia a
capital Tiberíades, uma espécie de miniatura de Cesareia, erguida por Herodes.
Eliminou de forma brutal os que o criticavam, dentre eles, João Batista que foi
executado sem piedade.
Pagola nos ajuda a
visualizar bem a região da Galileia. Fala de um lugar verde e fértil e a chama
de “país invejável”. Seu clima era suave, vento úmido do mar, fertilidade da
terra eram apenas algumas das suas características. Cultivava-se trigo de
qualidade e também cevada que era feito o pão dos mais pobres. Existiam
vinhedos por toda a parte. A oliveira era outra árvore abundante e apreciada,
bem como a figueira e as romãzeiras. Os contemporâneos de Jesus viviam no campo,
trabalhando na terra. Flávio Josefo, historiador judeu que percorreu a região,
pois havia sido general encarregado em defender o estado galileu contra a
invasão de Roma em 66 d.C. escreveu: “toda a região da Galileia está destinada
ao cultivo, e não há parte alguma de seu solo que esteja sem aproveitar…” É
claro que o dono das terras não eram os pobres. Haviam grandes proprietários,
dentre eles o próprio Antipas. Assim, a desigualdade era traço marcante. Sem
falar dos grandes tributos pagos ao Império Romano, ao Estado, ao proprietário
da terra e assim por diante… os pobres acabavam se tornando sempre mais pobres.
Mas, voltemos a afirmação
que conduz e inspira nossa Ampliada Nacional da PJ: Jesus Ressuscitado pede que
os seus vão até a Galileia para vê-Lo. E desde a Galileia somos desafiados, com
Jesus e como Ele, a redescobrir nosso método de trabalho com a juventude.
Carmem Lúcia Teixeira, ao
sistematizar o processo de educação na fé, faz uma importante reflexão que
queremos reafirmar: “A Pastoral da Juventude quer favorecer processos de
desenvolvimento integral da pessoa do/a jovem. Isso implica, pedagogicamente,
em trabalhar cada uma das dimensões da pessoa. Essa tarefa não é fácil e nem
sempre tem sido realizada a contento (…). Uma visão estreita do ser humano e da
ação pastoral conduziu frequentemente ao psicologismo e espiritualismo.”
Consciente desse desafio, e provocados/as por Jesus e por seu mandato de “ir a
Galileia”, provocamo-nos a refletir nosso método de trabalho com a juventude.
Queremos nos debruçar sobre a dimensão técnica de nosso serviço.
A Pastoral da Juventude do
Continente assumiu o método da Igreja Latino-americana: VER – JULGAR – AGIR,
acrescidos depois do REVER e CELEBRAR. “Mais que uma metodologia, o
ver-julgar-agir-rever-celebrar é um estilo de vida e uma espiritualidade que
vive e celebra a descoberta da presença de Deus na história, a atitude de
conversão pessoal e contínua, e o compromisso com a transformação da realidade”
(CAPyM, 743). Essa metodologia redescobrimos com Jesus na Galileia.
Castillo nos recorda que
Jesus viu que era da Galileia, ou seja, a partir de baixo e dos últimos, que
deveria falar de Deus e apresentar sua mensagem. Esse autor e outros tantos
teólogos lembram sempre que foi na Galileia que Jesus viu a realidade de seu
povo (VER), discerniu sua missão (JULGAR), anunciou o Reino de Deus (AGIR),
ajudou-nos a perceber que a vida sempre derrota a morte (REVER) e a fazer
festa, com as dores e alegrias (CELEBRAR).
O núcleo da proposta da PJ
é a vida e o seguimento em grupo de jovens. No grupo vamos aprendendo
comunitariamente a VER a realidade, ampliando nosso horizonte e nossa
capacidade de olhar. Desde a Galileia queremos, com Jesus, perceber os sinais
de vida e de morte que estão à nossa volta. Trata-se de olhar profundo, que
enxerga as entrelinhas e não fica na superficialidade dos fatos. É o chamado “a
não colocarmos retalho de roupa nova para fazer remendo de roupa velha” (Lc 5,
36). É um desafio de olhar fixamente para Jesus e com Ele olhar para quem e do
modo como Ele olhava.
Tendo aprendido esse olhar
com Jesus, Galileia nos provoca a discernir nossa missão, nosso serviço e o
modo de viver a causa do Reino com a juventude. É o tempo de JULGAR. Qual
novidade a PJ traz à juventude hoje? Como a PJ pode e deve ser vinho novo em
odres novos (Lc 5, 37)? Como responder à vida concreta e diversa da juventude?
Como atender às interpelações do Divino no jovem? A Ampliada se faz momento
profético à medida que discerne a missão da pastoral. Trata-se de um processo
continuo e coletivo de redescoberta da missão e do melhor modo de vivê-la.
Naturalmente, olhar a vida
da juventude e nossa realidade concreta e o discernimento da missão, nos
colocam em ação, como Jesus. É o tempo de AGIR, de transformar a causa que
assumimos em compromissos concretos, em ações diárias e pequenas. Com Jesus e
com o povo africano cremos sempre que “gente simples, fazendo coisas pequenas,
em lugares pouco importantes, conseguem mudanças extraordinárias”. A Ampliada
Nacional é chamada a pensar prioridades da PJ para o triênio que iniciará. Para
avançar é necessário pensar ações para responder à vida da juventude, bem como
refletir sua organização. É um movimento para fora e para dentro. Para fora, ao
buscar a vida da juventude em seus diferentes contextos e expressões. Para
dentro, ao fortalecer a vida dos grupos de jovens, ao garantir formação de
coordenadores e assessores, de modo que aconteça o acompanhamento aos processos
de educação na fé.
Nas Galileias, vamos
aprendendo a REVER, a perceber a vida que diária e silenciosamente derrota a
morte. É um novo olhar sobre a realidade. É avaliar a caminhada e os passos
dados. É perceber o que precisa ser alterado, para que o Reino aconteça de modo
mais efetivo e afetivo. É perceber a vida que foi transformada. Nessa direção,
a Ampliada Nacional se faz lugar de rever a ação da Pastoral dos últimos anos.
Debruça-se sobre os seis Projetos Nacionais e a organização interna
(coordenação, assessoria e secretaria na instância nacional), de modo a
perceber quanta vida gerada e onde nossa ação está fragilizada. Tudo isso, para
agradecer o bem feito e avançar mais na evangelização da juventude.
A vida sempre tem que ser
celebrada, em suas dores e alegrias. Porque a vida precisa ser assumida e só a
assume quem toma as dores e as alegrias nas mãos e as reconhece como parte do
caminho. É isso que aprendemos com Jesus, que celebra as Bodas de Caná, que faz
água ser vinho (Jo 2). É isso que aprendemos com Jesus que nos envia à Galileia
para ser testemunhas da Ressurreição. É a vida que derrotou a morte, mesmo que
muitos sinais de morte ainda estejam presentes. É a vida que está ali,
convidando-nos a fazer festa, com os pequeninos e pobres. E ninguém melhor que
a juventude para nos ensinar a fazer festa. Basta o encontro de dois ou três
amigos, que uma festa já começa. Os cantos, as cores, as danças, os abraços
tornam mesmo as dores, em celebrações. Essa é uma atitude de esperança! Na
“Galileia” de nossas vidas, com Jesus e com Maiakovski, mesmo nas situações
duras e adversas aprendemos a fazer festa e a poetizar, cantar e profetizar:
“Não estamos alegres, é
certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado as ameaças e as guerras, haveremos de atravessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta.”
Estamos certos e convictos
de que a Ampliada precisa nos fazer reafirmar nossa metodologia. Assumir esse
modo de fazer, esse estilo de vida e essa espiritualidade, que descobrimos como
Igreja do Continente, com Jesus na Galileia. O método não é acessório,
alegoria. É causa que nos compromete e que nos faz assumir outros compromissos.
Vamos falar e viver nossa metodologia… Lembremos disso em todo o tempo e a
assumamos a todo custo!
Pe. Maicon Malacarne e
Luis Duarte Vieira