11º Encontro Nacional da Pastoral da Juventude
Manaus/AM, 18 a 25 de janeiro de 2015
“No encontro das águas partilhamos a vida, o pão e a utopia”
“Mestre, onde moras? Vinde e vede!” (cf. Jo 1,38-39)
Manaus, 25 de janeiro de 2015.
No encontro das águas,
partilhamos a vida o pão e a utopia.
Queridas companheiras e queridos companheiros na caminhada da Pastoral da Juventude,
Nós, jovens e assessoras/es da Pastoral da Juventude, reunidas e reunidos em Manaus por ocasião
do 11º Encontro Nacional da PJ, sabemos que somos Igreja jovem e agora ousamos perguntar:
“Mestre, onde moras?” (Jo 1, 38). Aqui no encontro das águas, partilhando a vida, o pão e a utopia,
realizamos a festa do reencontro de tantos e tantas jovens, assessores e assessoras de todos os
cantos do país engajados na Pastoral da Juventude. Essa partilha entre as delegadas e os delegados
do Encontro Nacional na realidade amazônica fez com que fosse possível experimentar a esperança
de que um mundo melhor pode ser concretamente construído em cada grupo de base.
Com esse olhar de esperança, saímos de nossos lares em direção às terras amazonenses. Nossos pés
tocaram esse chão sagrado de povos com cultura, lendas e lutas próprias. No encontro com outras
pessoas começamos a dançar e continuamos girando numa ciranda que fez de nós um só corpo.
Com nossos pés no chão e de mãos dadas, nos encontramos no respeito às diferenças e, lado a lado,
estamos nos transformando um grande rio-mar. A diversidade de histórias de vida, de anseios, de
sonhos e de cores nos encheram os corações durante esses dias.
Para que esse encontro acontecesse, primeiramente tocamos e nos deixamos tocar pelas nossas
realidades e pelo chão que nosso povo pisa. Olhamos para a conjuntura atual em seus aspectos
político, social, econômico, ecológico e religioso. Perguntamo-nos: como a Igreja, comunidade das
seguidoras e dos seguidores de Jesus de Nazaré, o Cristo, tem se posicionado em relação a essas
realidades? As provocações fizeram brotar em nós angustia e inquietação. Sentimos necessidade de
reafirmar a opção por uma “Igreja pobre, para os pobres”. Aos poucos, em cada experiência
concreta que fizemos, foi ficando claro que é através do pobre como sujeito de sua vida que
continuamos construindo o Reino de Deus. Fizemos o exercício de treinar nosso olhar para
olharmos o mundo do outro com o olhar do outro mesmo e assim compreendermos seus 11º Encontro Nacional da Pastoral da Juventude
Manaus/AM, 18 a 25 de janeiro de 2015
“No encontro das águas partilhamos a vida, o pão e a utopia”
“Mestre, onde moras? Vinde e vede!” (cf. Jo 1,38-39)
horizontes. Reconhecemos nosso povo simples, descomplicado, de enorme benevolência, de
sorrisos insistentes mesmo quando tudo pode levar ao choro. Nosso apoio está na fé naquilo que
virá, no amor estampado nos olhos e nos rostos caboclos, indígenas, camponeses, ribeirinhos,
periféricos. São nessas realidades nas quais vivemos que nos é possível enxergar o Nazareno.
Fomos chamadas e chamados a nos colocar em missão partilhando a vida de muitas comunidades.
Pessoas vivendo em comunidades ribeirinhas, indígenas, rurais e nas periferias urbanas.
Experimentamos o cuidado e a acolhida das paróquias e das famílias que, generosamente, abriram
as portas de suas casas para receber os e as jovens do Brasil inteiro. Todos e todas nós tivemos que
enfrentar a ansiedade e o medo do desconhecido, mas no encontro acabamos experimentando a
alegria de sermos cuidados e cuidadas. Nesses lugares nos deparamos com rostos e histórias novas
e entramos na vida e na rotina das paróquias e das famílias que se prepararam para nos receber.
Agradecidos e agradecidas tocamos as “chagas do Senhor” (EG n. 270) enquanto estivemos no
convívio com as pessoas e nos deixamos tocar pelo Cristo que fez morada entre nós: “Mestre, onde
moras?” foi nossa pergunta.
“Vinde e vede!” (Jo 1,39). Esse é o convite que recebemos do Mestre de Nazaré. Ao rezarmos a
iluminação bíblica redescobrimos Jesus que nos convida a permanecer com Ele no meio do povo
pobre. Em cada manhã de mística e oração experimentamos através da palavra, da arte, da poesia e
da vida do povo amazonense o encontro com o Senhor que passa e nos foi apontado por tantos
discípulos e tantas discípulas que nos antecederam na caminhada pastoral. Ouvimos do Papa
Francisco que nos reconhece como portadores e portadoras da esperança que liberta para a alegria,
por “testemunharmos com nossas vidas Cristo Libertador” (Carta de Francisco ao 11º ENPJ). Essa
alegria vem de dentro, como vem essa energia da Pastoral da Juventude. Vivemos uma
espiritualidade libertadora no chão da Amazônia, no Brasil e na América Latina. Precisamos deixar
ecoar sempre em nós, e em cada jovem, a pergunta: “Mestre, onde moras?” e assumir o desafio,
sempre novo, de acolher o convite a permanecer com Ele: “Vinde e vede”.
Sob o olhar de Maria, nossa mãe índia, no encontro das águas também nos encontramos. Encontro
de dois grandes rios tão diferentes em cores, temperatura, densidade e velocidade, mas que na
corrente se fazem um só. Mergulhamos no aprendizado do cuidado com a Criação, do apelo
ecológico e de maneira especial do cuidado com as águas. Muito mais que um espetáculo, o 11º Encontro Nacional da Pastoral da Juventude
Manaus/AM, 18 a 25 de janeiro de 2015
“No encontro das águas partilhamos a vida, o pão e a utopia”
“Mestre, onde moras? Vinde e vede!” (cf. Jo 1,38-39)
encontro das águas nos convida a contemplar a criação e a sabedoria do Criador e repensar a
realidade de nossas nascentes e rios tão machucados por processos degradantes. Esse momento de
oração na natureza, de alegria e descontração tocou nossa pele e transbordou em emoção nos
corações, nas lágrimas e nos sorrisos juvenis.
Os e as jovens são o “sacramento da novidade” e, de maneira especial, reconhecemos esse
sacramento nos jovens empobrecidos. Nós pertencemos a esse grupo juvenil que é portador de
esperança e que incomoda a Igreja e a sociedade. Orientamos nossa energia e doamos nossa vida
jovem, tanto por nós mesmos/as quanto junto a tantos outros e outras jovens nas dioceses do nosso
Brasil. A Pastoral da Juventude necessita que façamos um esforço de sairmos de nosso conforto
para, juntos e juntas, construirmos o caminho do “bem viver e conviver”. No acolhimento dos e
das jovens e dos grupos de jovens a metodologia da qual nos apropriamos precisa enfrentar os
desafios em cada realidade com entusiasmo, ousadia e esperança que são próprios das juventudes.
Criativamente nossos grupos de base podem se engajar em diversos trabalhos sociais nas
comunidades, como por exemplo, o que conhecemos na área da ecologia com o projeto de
reciclagem. Muitos são os desafios e muitas são as possibilidades e brechas de testemunharmos o
reinado de Deus acontecendo também nas sementes que são os nossos grupos de base. O Reino de
Deus já está aí entre nós. “Nunca percam a esperança e a utopia, você são os profetas da esperança,
são o presente da sociedade e da nossa amada Igreja e, sobretudo são os que podem construir a
civilização do Amor.” (Carta de Francisco ao 11º ENPJ).
Encontramos o Mestre! Essa foi a afirmação de tantos e tantas jovens em suas partilhas ou ao
voltarem das experiências vividas no chão amazônico. Concluímos que é preciso um olhar
diferente, transfigurado, para a realidade amazônica para vê-la como ela realmente é. Para esse
novo olhar, nos despimos de nossos rótulos, caricaturas e preconceitos. Olhamos a Amazônia não
só como lugar de exploração e turismo, mas também como lugar de vida e ensinamento de diversos
povos. Afirmamos nosso apoio aos povos que vivem na Amazônia e manifestamos nossa
indignação por toda situação de descaso político e social que percebemos.
Sentimo-nos agradecidos pela presença de todas as pessoas que se esforçaram para que esse
encontro se tornasse realidade. Lembramos de modo especial a Igreja da Arquidiocese de Manaus,
as pessoas do Regional Norte 1, os e as jovens das equipes de serviço, os assessores e assessoras, a 11º Encontro Nacional da Pastoral da Juventude
Manaus/AM, 18 a 25 de janeiro de 2015
“No encontro das águas partilhamos a vida, o pão e a utopia”
“Mestre, onde moras? Vinde e vede!” (cf. Jo 1,38-39)
presença amiga de Dom Wilson que permaneceu conosco durante todo o encontro e tantos outros
parceiros da caminhada.
Desejamos que essa carta e as partilhas do nosso 11º Encontro Nacional inspirem cada jovem
pjoteiro e pjoteira a continuar cultivando a esperança e o compromisso com sua realidade. Que os
temas aprofundados e debatidos durante o Encontro Nacional suscitem o interesse de cada jovem
que busca ser protagonista na ação evangelizadora. Que as conclusões e partilhas nos alimentem o
sentido da vida e nos dê o sabor do pão partilhado. Que todos/as que nos lerem nas rodas de
conversa presencial, nas redes sociais e no mundo virtual possam se sentir representados e
representadas por todas essas experiências aqui relatadas. Que o Espírito de Deus faça arder nosso
coração nesse encontro com o Mestre e assim, juntos e juntas, construiremos a “Civilização do
Amor”.
Chegou a hora de continuarmos remando e voltar para nossas casas com o compromisso de sermos
profetas da esperança. Continuaremos juntas e juntos o grande puxirum da juventude.
Que todos e todas recebam e transmitam nosso caloroso abraço desde o coração dessas águas que
se encontram e fluem a toda a juventude do Brasil.
Amém, Axé, Awere, Aleluia.
Delegadas e Delegados do 11º Encontro Nacional da Pastoral da Juventude.